segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

FERRAMENTAS ANTIGAS DO MEU AVO E DO MEU PAI (CARPINTEIROS)


1. Introito:

O meu gosto, quase obsessão, por antiguidades e velharias leva-me a coleccionar peças do passado, para apresentar no presente e projectar no futuro, utilizando os actuais meios de informação disponíveis, quer para perpetuar as mesmas, quer para que os futuros conheçam o inegável e honroso passado dos nossos pais, avós e outros mais.


2. Uma Geração de Carpinteiros:

O meu avô materno, Joaquim Jorge Gomes – J J G, natural da Asseiceira Grande (Milharado), do concelho de Mafra, toda a sua vida foi carpinteiro.

Começou como ajudante, depois aprendiz, até chegar a mestre de carroças e carros de bois – fazia as rodas dos antigos carros de bois e das carroças: rodas, raios, varais, e tudo o mais que era em madeira…

No intervalo destes trabalhos, fazia barris, celhas e pipas em madeira, para além janelas e portas em madeira, tudo moldado à mão, quer no seu quintal, quer na casa dos clientes, pois nesses tempos até as portas e janelas se faziam na casa do cliente. Não eram só os madeiramentos das poucas moradias que se faziam, com asnas, vigas, barrotes, ripas, fechais, e tudo o mais.

A evolução foi grande e rápida; os carros de bois acabaram, as carroças começaram a escassear e com o advento das primeiras camionetas de passageiros, o trabalho diversificou.


Foi o meu avô, já com o meu pai, “o rapaz”, como dizia, como ajudante que encarroçou as primeiras camionetas ou “carreiras” do Isidoro Duarte, da Póvoa da Galega (Milharado) – Mafra, pois as mesmas eram entregues somente com chassis e longarinas e sem carroçaria – vinham de Lisboa, mas já traziam a madeira em cima delas para depois as encabinar, já que toda a estrutura era em madeira, tal como o pavimento, onde assentavam os bancos, alguns ainda corridos e todos em madeira.


O meu pai, Manuel Jorge Franco Gomes – M J F G, com a evolução natural, deixou a carpintaria de toscos, passou para a carpintaria de limpos e mais tarde para a carpintaria de limpos.

Passou por uma grande carpintaria havida na Malveira, os Irmãos Augustos, trabalhou em várias obras emblemáticas, à época, no Concelho de Mafra, como o Hospital de Mafra e mais tarde veio trabalhar para a carpintaria existente à entrada sul de Mafra, na Rua do Canal, do saudoso Guilherme Machado.

Em 1956 estabeleceu-se por conta própria, com o seu sócio de sempre, Carlos da Silva, da Póvoa de Cima (Santo Isidoro), igualmente do concelho de Mafra, fundando a Carlos & Jorge, Lda., na antiga Rua dos Cabeços, actual Rua Normando Correia Leitão, a qual ainda se mantém em laboração (2014).


3. Ferramentas do meu Avô:

Perpetuando a actividade do meu avô e dando a conhecer as ferramentas que o mesmo utilizou ao longo da sua vida de carpinteiro; guardadas, mantidas e conservadas pelo meu pai; cumpre-me a mim, agora coleccioná-las, catalogá-las e divulgá-las publicamente, para conhecimento de todos.

Há já algum tempo que vinha a pensar neste projecto, mas continuamente adiado, por outras situações.

Mas o mote foi dado, através da “Exposição de Ferramentas da Construção, no Convento de Mafra”, inaugurada a 5 de Dezembro e organizada pela Associação Amigos do Convento de Mafra – Guardiães do Palácio”, que depois de a visitar, decidi avançar com o presente documento de inventariação e catalogação de ferramentas do meu avô e também do meu pai.


Aqui vai o primeiro conjunto de ferramentas de uma colecção de centenas, para conhecimento de todos:

1. Cabedais (2):

Cabedais
(Ferramenta de orientação e apoio (duas mestras ou guias) - serve para ver o empeno duma tábua. Há distorcer um cabedal pelo outro).

2. Govete ou Goivete:


Govete ou Goivete
(Ferramenta de envaziar (rebaixar uma peça para encaixar outra), com a profundidade desejada).

3. Cantil:
Cantil
(Ferramenta de envaziar (rebaixar uma peça para encaixar outra), com bitola de afinação da largura do envaziado).

4. Cintel:


Cintel

(Ferramenta de marcação e traçagem – serve para desenhar circunferências, arcos, etc.)

5. Afagadeira de Tanoeiro, Faca de Tanoeiro ou “corteché” de Tanoeiro:

Afagadeira, Faca ou "Corteché" de Tanoeiro

(Ferramenta de acabamento - serve para rectificar e alisar aduelas de barris, ou de outras peças curvas).
6. Enxó de Tanoeiro:

Enxó de Tanoeiro
(Ferramenta de desbaste – serve para desbastar peças de madeira ou para fazer o entalhe de grandes peças de madeira).

7. Graminho para peças sutadas:

Graminho para peças sutadas
(Ferramenta de marcação – serve para marcar respigas de peças sutadas)

8. Junteira Direita:

Junteira direita
(Ferramenta de corte - serve para fazer juntas às tábuas ou rebaixar topos para pôr os cabedais, para ver o empeno das peças - tábuas).


9. Plaina de replainar:


Plaina de replainar
(Ferramenta de corte - serve para rebaixar as almofadas das portas, dos veda-luzes, etc., de forma plana).


10. Plaina de Replainar com moldura:

Plaina de replainar com moldura

(Ferramenta de corte - serve para rebaixar as almofadas das portas, dos veda-luzes, etc., com moldura - decoração).

10-A. Garlopa:



Garlopa
(Ferramenta de corte e desbaste - serve para fazer juntas de portas, etc).

Nota: Veja-se a qualidade e requinte do fabrico desta ferramenta, com as iniciais JJG – Joaquim Jorge Gomes (o meu avô).


11. Cepo de Moldar:

Cepo de moldar
(Ferramenta de corte e molde - serve para moldar caixilhos – para fazer a decoração dos pinázios, vergas e couceiras).


12. Cepo “Maroto”:

Cepo "Maroto"

(Ferramenta de corte e molde - serve para moldar caixilhos – para fazer o rebaixo por fora).

13. Cepo Nacela:

Cepo Nacela
(Ferramenta de corte e molde - serve para moldar caixilhos – para fazer o rebaixo por dentro).

14. Cepo de macho-fêmea:


Cepo Macho-Fêmea
(Ferramenta de corte e molde - serve para fazer o macho de forro, por exemplo, a fêmea é feita com o cantil).

Nota: Veja-se nesta ferramenta as inicias JJG – Joaquim Jorge Gomes (o meu avô).


14-A Cepo de Parelha (Macho-Fêmea):


Cepo de Parelha (Macho-Fêmea)
(Ferramenta de corte e molde - serve para fazer o macho e fêmea do solho).

Nota: Veja-se nesta ferramenta as iniciais JJG – Joaquim Jorge Gomes (o meu avô).


15. Arco de Pua:


(Ferramenta de furar - serve para fazer furos na madeira, com a aplicação de brocas com o diâmetro do furo desejado, para colocar cavilhas ou palmetas).

16. Formão de Relhas:


(Ferramenta de fazer furos (profundos) - serve para fazer furos (profundos) na madeira, para a aplicação de relhas das rodas dos carros de bois- travamento das peças de madeira que constituem a roda).

17. Cepo Macho:


Cepo Macho
(Ferramenta de corte e molde - serve para moldar os peitos das janelas).

Nota: Veja-se nesta ferramenta as iniciais JJG – Joaquim Jorge Gomes (o meu avô).


18. Cepo de moldar fasquias:



Cepo de moldar Fasquias
(Ferramenta de corte e molde - serve para moldar fasquias, alquitraves, boceis, etc., consoante o ferro).

Nota: Veja-se nesta ferramenta a data de fabrico 22-7-30 (1930) e as iniciais JJG – Joaquim Jorge Gomes (o meu avô).


19. Cantil de envaziar, com bitola:   


(Ferramenta de corte e molde - serve para fazer envaziados, e consoante a bitola usada assim a largura do envaziado).

20. Plaina Come-gente ou Plaina desbastadora:

Plaina Come-gente ou Plaina desbastadora
(Ferramenta de desbaste, com um bom poder de corte - serve para desbastar tábuas empenadas).

21. Plaina:

Plaina
(Ferramenta de desbaste - serve para desbastar qualquer peça plana de madeira).

22. Robote:



Robote
(Ferramenta de desbaste (é uma plaina maior) - serve para desbastar qualquer peça plana de madeira).



23. Robote de Juntas:


Robote de Juntas
(Ferramenta de desbaste (é uma plaina maior) – esta serve para fazer juntas de qualquer peça plana de madeira).

Nota: Veja-se nesta ferramenta as iniciais JJG – Joaquim Jorge Gomes (o meu avô).


24. Rebaixador:


Rebaixador
(Ferramenta de desbaste e moldar – serve para fazer rebaixes em qualquer peça plana de madeira).
25. Caipira, Corteché ou Raspador:


Caipira, Corteché ou raspador
(Ferramenta de raspar e acabamento – serve para raspar e fazer o acabamento de peças de madeira).

26. Bitola



(Ferramenta de orientação e apoio - serve para tirar medidas e fazer marcações, comparativamente).

4. Epílogo:

Para já apresentamos este extenso conjunto de ferramentas, oportunamente continuaremos a apresentar mais, indicando qual o seu uso e para que servem.